sexta-feira, 15 de abril de 2011

BWSP-15

Para fechar o "ciclo" de conferências desse semestre (duas), participei nessa semana do 15o. Brazilian Workshop in Semiconductor Physics (BWSP) em Juiz de Fora, MG.

O BWSP é o principal encontro científico na área de Física de semicondutores do Brasil, tendo a tradição de reunir gente de "peso" na área. Esse ano, o BWSP trouxe nomes famosos em Física da Matéria Condensada, como Alan MacDonald (University of Texas-Austin) e Daniel Loss (University of Basel, Suíça), o que é sempre bom, especialmente para os estudantes.

Alguns highlights do programa:

- Caio Lewenkopf (UFF) apresentou um seminário sobre efeitos de desordem em grafeno (o material que "levou" o Prêmio Nobel esse ano, como comentei aqui). Esses efeitos são importantes para explicar certas características do transporte eletrônico (a mobilidade eletrônica, por exemplo) e afetariam a eficiência de dispositivos eletrônicos à base de grafeno. Vide o review escrito pelo Caio em colaboração com Eduardo Mucciolo.

- Ainda nessa linha, Alan MacDonald deu um seminário sobre efeitos de interação elétron-elétron em grafeno. Foi um seminário bastante técnico (várias equações de auto-energias e coisas do tipo...). Minha impressão geral é a de que os efeitos de interação de troca são relativamente fracos e difícieis de detectar em monocamadas de grafeno, mas talvez mais evidentes em bi-camadas.

- Daniel Loss deu um seminário sobre interação spin-órbita e modos helicoidais em nanotubos de carbono e como esses modos levam a "férmions de Majorana" aprisionados quando o nanotubo é colocado em proximidade com um supercondutor. É um trabalho inteiramente teórico (ainda não há experimentos, aparentemente) e bastante interessante, embora um tanto árido para a platéia em geral (não é fácil explicar como férmions de Majorana aparecem nesses sistemas em um seminário curto, mesmo que a platéia seja formada por Físicos com doutorado...).

- Já na parte de aplicações de semicondutores, Cengiz Besicki (Middle East Technical University, Ankara, Turquia) falou sobre detetores de radiação infravermelha usando poços quânticos e pontos quânticos, um dos tópicos de interesse de alguns colegas do meu grupo de pesquisa na USP. Tais detetores são de extrema importância, inclusive com usos militares e em segurança pública (equipamentos para visão noturna, etc. ). Há um esforço brasileiro (via Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) nessa área, de modo que a audiência estava bem interessada. O seminário em si foi muito bom, recheado de imagens térmicas de câmeras de "visão noturna".

- Houve uma seção de duas horas com experimentos muito bonitos em condensados de exciton-polaritons. Esses sistemas são análogos aos condensados de Bose-Einstein (BECs), embora tecnicamente não sejam BECs (entre outras coisas, não são sistemas em equilíbrio: um laser está sempre "bombeando" energia para manter o estado ligado exciton-fóton).

Esses condensados são estados quânticos macroscópicos, com várias propriedades interessantes (quantização de vórtices, etc.) que são estudadas em detalhe nos experimentos. Trabalho de primeira linha.

Sobre o lugar: Juiz de Fora é uma cidade bem agradável, embora só tenhamos visto um pouco mais da cidade nos últimos dias (o hotel ficava no centro). Dá pra ver que, sim, estamos em Minas, mas tem um ar bastante carioca/fluminense (até os taxis são amarelos... ;) ). Pena que as melhores dicas de lugares para se ir me foram dadas pelo o taxista já a caminho da Rodoviária para a volta a SP... Fica pra próxima.

2 comentários:

  1. Por falar em grafenos e nanotubos, eu acho muito interessante como os átomos têm "personalidades" tão diferentes uns dos outros. Veja o carbono. Que bichinho danado. Não bastasse formar as cadeias que são a base da vida na Terra, há as propriedades surpreendentes do grafeno, dá para fazer nanotubos e coisa e tal, e os nanotubos também têm suas propriedades de erguer as sobrancelhas, como esses férmions de Majorana... O grafite pirolítico altamente orientado (HOPG) também é muito interessante (p. ex., tem supercondutividade local - não confundir com a SC tradicional -, férmions de Dirac e outras excentricidades). Tem um grupo da Unicamp, o do Yakov Kopelevich, pesquisando o HOPG. Pergunto-me por que o carbono faz tudo isso - sei lá se existe uma resposta -; se será possível identificar alguma característica simples desse átomo que esteja ligada com essa imensa versatilidade e proficuidade...

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  2. Pergunto-me por que o carbono faz tudo isso - sei lá se existe uma resposta -; se será possível identificar alguma característica simples desse átomo que esteja ligada com essa imensa versatilidade e proficuidade...

    Excelente pergunta. É possível que alguma característica do carbono (por exemplo, a capacidade de ter hibridização tanto planar sp2 como tetraédrica sp3) contribua mas acho que a resposta está mais na linha do que disse Phil W. Anderson no famoso artigo "More is Different" (Science 177 393 (1972)):

    "The behavior of large and complex aggregates of elementary particles, it turns out, is not to be understood in terms of simple extrapolation of the properties of a few particles. (Luis: p. ex., átomos de carbono...)
    Instead, at each level of complexity entirely new properties appear and the understanding of the new behaviors requires research which I think is as fundamental in its nature as any other."

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